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sábado, 31 de outubro de 2009

High Scope

Já aqui falamos sobre a Introdução de um Modelo Curricular numa sala. Agora vamos conhecer alguns modelos que podemos seguir. Eu, pessoalmente, sou adepta do High Scope. Identifico-me com o tipo de abordagem que este modelo faz do desenvolvimento das crianças e do seu papel na construção da sua identidade.


É um modelo que vai ao encontro da criança e das suas necessidades, moldando-se a ela ao longo do seu desenvolvimento.


“Não há acção educativa que possa ser mais adequada do que aquela que tenha a observação da criança como base para a planificação educativa. É que isso permite ao adulto programar e agir com base na tensão criativa entre uma perspectiva curricular teoricamente sustentada e um conhecimento real dos interesses, necessidades, competência e possibilidades da criança.”
(Oliveira-Formosinho, J., 2007, pg.59).



O Currículo High-Scope situa-se também no quadro de uma perspectiva desenvolvimentista para a educação de infância, iniciada na década de sessenta por David WeiKart, psicólogo americano e presidente da Fundação de Investigação Educacional High-Scope, em Ypsilanti, Michigam, Estados Unidos.

O Currículo High-Scope é um modelo construtivista e interaccionista, uma vez que considera o desenvolvimento e o conhecimento se vão construindo pelo sujeito a partir das suas interacções com o mundo que o rodeia, ou seja com os objectos e as pessoas.

“O conhecimento não emerge dos objectos ou da criança, mas das interacções que se estabelecem entre a criança e esses objectos”
(Piaget, 1969)


Piaget apresenta a criança pequena como um ser que vai construindo o seu desenvolvimento cognitivo nas acções sobre as coisas, as situações e os acontecimentos. Estas situações educacionais devem acontecer em “campos de acção”, onde possam transformar as explorações em aprendizagens significativas. Num primeiro momento, a criança manipula, explora e descobre os objectos de seu interesse num espaço em que os aprendizes activos (crianças) façam aprendizagens activas.

A aprendizagem activa é definida como a aprendizagem em que a criança, através da sua acção sobre os objectos e da sua interacção com as pessoas, chega à compreensão do mundo. O conceito de aprendizagem activa é o coração conceptual do modelo High-Scope que se apoia em quatro pilares críticos: a acção directa sobre os objectos, a reflexão sobre as acções, a motivação intrínseca e o espírito de experimentação.

Então, a criação do espaço de aprendizagem (sala de actividades) é a primeira etapa de implementação do Currículo High-Scope.

A base deste modelo, consiste essencialmente em:

- preparar o espaço e os materiais;
- criar um ambiente de aprendizagem interactiva para cada criança e para as suas relações em grupo e com os seus pares, criando situações de socialização;
- garantir igualdade de oportunidades;
- responder aos interesses e necessidades educacionais da criança;
- proporcionar oportunidades de escolha e de liderança; e ainda...
- criar oportunidades de expressão individual e de descoberta actIva; entre outros.


O modelo High-Scope, nas suas linhas orientadoras, apoia o educador, na sua primeira forma de fazer currículo, criando o espaço de aprendizagem – um espaço convidativo e dividido em áreas de interesse, áreas com visibilidade e de fácil movimentação entre elas; áreas com variedade de materiais e que apoiam a variedade de jogos; materiais que reflictam o nível de desenvolvimento, interesse e cultura das crianças; materiais que permitam à criança manipular, explorar, descobrir, classificar e usar.


 “As crianças activas precisam de espaços organizados e equipados com materiais que promovam a aprendizagem activa”
(HOHMAN, 1995)


A aprendizagem activa embora tenha o apoio do adulto, é da iniciativa da criança.
É ela que descobre, actua, manipula e experimenta e quanto mais o faz, mais aprende e se desenvolve.
Para que as experiências das crianças sejam variadas, os materiais e objectos à sua volta também o deverão ser. A criança deverá sentir-se desafiada a tocar, a mexer, a cheirar, a saborear, a fazer soar... em segurança (tanto física, como emocional).


O educador tem a função de estruturar um espaço sala com áreas definidas, geradoras de oportunidades de aprendizagem natural, com uma organização do espaço e variedade de materiais que favoreçam, também, o relacionamento com as crianças, auxiliares e pais. O espaço é, segundo o Currículo High-Scope, um meio fundamental de aprendizagem que deve exigir do educador grande investigação e investimento, no seu arranjo e equipamento.

O educador deverá ser observador, atento e criativo, propondo e lançando desafios, de forma a rentabilizar ao máximo toda a organização da sua sala de actividades. 


Esta organização do espaço-sala recheado de materiais adequados ao desenvolvimento e à cultura da criança, valoriza a experimentação, a reflexão, a cooperação e a autonomia, promovendo, assim, o desenvolvimento sócio-moral, a partir da base experimental da criança, onde as interacções sociais se desenrolam no mundo físico dos objectos.


“Que os pais e educadores profissionais percebam que, o saber observar, falar e actuar pelo jogo e pelo trabalho precede e é portanto mais importante que o ler e escrever. Sem saber ver e descrever, não se pode aprender a ler”.
(João dos Santos)




Referências bibliográficas:
  • FORMOSINHO, J. (Org.), Spodeck, B., Brown, P., Lino, D. & Niza, S. (2007). Modelos Curriculares para a Educação de Infância. (3.ª Ed.). Porto: Porto Editora
  • FORMOSINHO, Júlia (Organização), KATZ, Lilian, MICCLELLAN, Dian, LINO, Dalila – Educação Pré-Escolar, A Construção Social da Moralidade, Texto Editora. Lisboa. 1996. 1ª EdiçãoSANTOS, João. Ensaios sobre Educação II. O Falar das Letras. Livros Horizonte. 1983
  • PEARSON, Jenny e LAMBERT, Jack, Adventure playgrounds



Elsa Filipe

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