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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Partos diferentes - nascer na água

A história de cada parto é diferente e mesmo com a mesma mulher não há dois partos iguais.

A partilha destes momentos é uma forma de aprendizagem mútua - que beneficia quem lê, mas também quem conta - e por isso deixo agora aqui a descrição de uma forma diferente de dar à luz, para a qual peço a vossa colaboração, convidando-as a partilharem a vossa experiência caso esta tenha sido a vossa escolha.

"Popularizado pelo médico Francês Michel Odent, na década de 60, o parto na água foi inicialmente descrito como uma forma alternativa de controlo da dor durante o trabalho de parto.

Será utopia? Ou uma forma de parir que devolve o protagonismo à mãe e ao bebé e que lhes deixa a eles dois a responsabilidade, mas também o direito, de decidir quando e como o nascimento vai ocorrer, com o mínimo de pressão e de intervenção de terceiros possível?

A imersão em água à temperatura do corpo ajuda a reduzir o nível de adrenalina da mulher e estimula a libertação de ocitocina."(1) Na sua visão de mundo, Odent procura compreender a natureza em vez de a tentar modificar. Assim, através da sua observação crítica da vida humana (desde a concepção e nascimento) e ampliando os seus estudos em psicologia e antropologia, Michel Odent, deixa a sua carreira de cirurgião para se dedicar a obstetrícia.

Para este médico, "é importante que as grávidas percebam que, por si só, o parto na água não pode ser considerado como o ‘remédio’ providencial que evitará a dor e proporcionará um nascimento ‘ideal’".(3)
Este acrescenta ainda que "tem de fazer parte de um processo mais abrangente em que a natural dor fisiológica é gerida e atenuada através de um sistema de protecção fisiológica."(3)
"Esse sistema implica que as mulheres possam atravessar toda «a cadeia de eventos que constitui o parto», incluindo a dor mas também o «cocktail natural» de ocitocina e endorfinas que «atenua temporariamente as capacidades cerebrais para que as mensagens dolorosas não cheguem com a intensidade habitual ao córtex e sejam, por isso mesmo, mais facilmente trabalhadas»."(3)



"Michel Odent não hesita em dizer que «quando o processo é deixado seguir, ocorre um certo grau de amnésia e mesmo consciência alterada que permite à mulher ficar indiferente a tudo o que a rodeia, menos à tarefa que tem em mãos: fazer nascer o seu bebé.» O problema, refere «é que parece haver cada vez menos casos em que as mulheres são deixadas chegar a esse estado alterado de consciência». É aí, remata, que «ainda há um grande caminho a percorrer» para dar garantias «da privacidade, silêncio e intervenção mínima de terceiros que são essenciais no parto.»"(3)

Para Odent, há que repensar o parto, dando maior protagonismo à doula ou parteira. E assim, dar ao mesmo tempo, maior poder de decisão à mulher e fazê-la sentir-se segura, num ambiente mais calmo.
O parto na água e os seus benefícios:

As mulheres que o experimentaram descrevem como benefícios deste tipo de parto, a diminuição da intensidade da dor, uma sensação de bem-estar e paz interior. Segundo Michel Odent "a utilização das piscinas de parto baseia-se (...) numa simples consideração fisiológica: o antagonismo entre adrenalina e ocitocina."(2)

"A imersão em água à temperatura do corpo parece ser uma medida segura e eficaz de substituir as drogas durante o trabalho de parto."(2)
Receios:

Um dos receios é que o bebé nasça debaixo de água, mas na verdade, se isso acontecesse, o que é muito raro, não haveria qualquer risco real. "De acordo com os investigadores, em gravidezes sem problemas, os riscos de nascer debaixo de água são semelhantes aos riscos de nascer fora dela."(1)

Alguns estudos "alertam para possíveis perigos: aspiração de água, danos neurológicos, ruptura do cordão umbilical e, pneumonia. (...) um artigo no The Times" refere o "caso de um bebé que teve de ser internado numa unidade de cuidados intensivos. Thomas Stuttford, o autor do artigo, médico, critica severamente os apologistas do parto na água, afirmando que esta forma de nascer coloca sérios riscos à saúde do bebé e que o sonho naturista da mãe não deve ser concretizado à custa do futuro do bebé."(1) Segundo Odent, este facto "não deveria causar pânico." Considera-a no entanto uma "preocupação legítima" apresentando dados publicados num estudo da British Medical Journal que refere "mais de quatro mil" nascimentos na água "entre 1994 e 1996", dos quais resultaram "cinco mortes perinatais." Segundo afirma estas mortes teriam justificações extra utilização da piscina de parto.(2)

Experiência Portuguesa:

Esta experiência não parece ser muito vasta se tivermos em conta outros países.

Em Inglaterra a realidade é diferente da do nosso país: "mais de metade das maternidades públicas britânicas têm piscinas de parto"(1), enquanto "em Portugal não existe esta opção. Falta conhecimento, sensibilidade e, sobretudo, condições logísticas para os hospitais poderem oferecer esta técnica."(1)

Em França, na maternidade de Pithiviers de onde Odent foi director a ideia do parto na água é uma realidade. Este é um hospital público, cuja maternidade "se tornou conhecida no mundo inteiro graças as idéias de seu diretor, o Dr. Odent, que dava uma atenção peculiar as parturientes. Ele procurava atender a uma reivindicação da mulher moderna: a de ser respeitada como mulher, principalmente num momento tão particular de sua vida, como o momento do nascimento."(4)

"Em Pithiviers acreditava-se que o parto não fosse uma doença, mas um ato natural e delicado e que a mulher tem condições de parir na maneira e na posição que ela própria desejasse. À medicina, a partir de então, só deveria providenciar a segurança necessária, sem desprezar as manifestações instintivas ligadas ao acto."(4)


"Em Portugal não se olha para o parto como um acto fisiológico, olha-se sim do ponto de vista mádico. Com eventuais riscos à partida e constante necessidade de intervenção."(1)

Segundo Victor Varela, enfermeiro obstetra, "a utilização da água no trabalho de parto, em recipientes adequados, é uma forma de favorecer o parto normal e fisiológico" o que poderia ser conseguido se se mudassem algumas mentalidades.(1)


Bibliografia:

(1) - AMORIM, Mª João, "Filhos da água", Pais e Filhos, Julho de 2005;
(2) - AMORIM, Mª João, "Precisamos de desumanizar o parto", Pais e Filhos, Julho de 2005;
(3) - http://www.paisefilhos.pt/index.php/homepage-mainmenu-1/notas-menu-noticias-60/1064-las-mulheres-npodem-ficar-prisioneiras-do-seu-projecto-de-partor
(4) - http://diariodeumanovamae.blogspot.com/2009/10/o-parto-dentro-dagua-de-michel-odent.html

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