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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Maus tratos infantis nas Famílias

Infelizmente este é um tema sempre actual.
Todos os dias há casos que escoam para a comunicação social. Digo escoa porque muitos não saem do silêncio de quatro paredes. Os maus tratos infantis que aqui abordo são de diversos tipos, desde os verbais aos sexuais, passando pelas agressões físicas e psicológicas, estas últimas transversais a todos os outros.

Segundo um estudo de uma Universidade da Flórida, "humilhar, envergonhar ou ameaçar pode ter tantos efeitos negativos numa criança quanto bater ou abusar sexualmente."(1) Bem eu por aí não sei. Acho que são coisas diferentes, cada uma delas graves, mas com graus de gravidade que não podem ser comparados de ânimo leve. "Os especialistas alertam para o facto de a baixa auto-estima na infância causada pelos maus tratos verbais se prolongar até à idade adulta."(1) Tal como acontece com os outros tipos de maus-tratos, mas volto a referir que mesmo que deixem marcas graves, não serão comparáveis aos abusos sexuais. Comportam ambos uma coisa em comum: o desrespeito pela criança e pela condição humana.

Os maus-tratos infligidos ba infância podem, segundo um estudo canadiano publicado na Nature Neuroscience, alterara alguns genes "deixando a vítima mais vulnerável a doenças mentais e ao suicídio."(2)

Ainda no campo do "infelizmente", as estatísticas dão-nos conta de que "cerca de 18% dos menores sofrem algum tipo de abuso sexual."(3) Estes dados têm já cerca de 8 anos, mas estarão ainda actuais ou até serão peocupantemente piores. No que respeita ao flagelo dos abusos sexuais, "tudo indica que, na sua maioria, os agressores sexuais tÊm uma clara preferência por crianças do sexo feminino."(3)

E tal como faço referência no título do post, estes abusos decorrem muitas vezes no seio familiar. Vários casos podem ser descritos como sendo um exemplo para as milhares de situações que ocorrem pelo país fora escondidas entre quatro paredes. "O anonimato protege uma mulher comum de 30 anos (...) Durante sete anos, entre os cinco e os doze, foi violada dentro de casa, quatro mudas paredes, pela pessoa que mais obrigação tinha de a proteger."(4) Não vou aqui copiar a história nem os pormenores que a tornam especial de entre tantas. tal como em tantos casos a agressão passava-se na presença de outras crianças, o que resulta num duplo abuso. "Na mesma cama, os irmãos dormiam sem, aparentemente, nada notarem. O silêncio, à semelhança da escuridão, encobria um abuso sexual que aniquilou a inocência e deixou marcas difíceis de apagar."(4) A verdade é que não era a única vítima naquela casa. A irmã, um ano mais nova, também tinha sofrido no corpo por pelo menos duas vezes a mesma situação.

Poucos são os casos que chegam às barras dos tribunais, apenas se vê a ponta do iceberg. As crianças abusadas são muitas vezes convencidas de que é errado falar. "O agressor encarrega-se de fazer acreditar que o que está acontecendo é normal e que acontece a todas as crianças. Por outro lado, as ameaças e as chantagens a que são submetidas costumam dar lugar à chamada síndroma de acomodação ao abuso que consiste em a criança acomodar-se a uma situação da qual não consegue escapar."(3)

Não devemos esquecer que a denúncia é o primeiro e mais eficiente meio de ajudar a criança. Ajudá-la a verbalizar o que se passa, embora seja por vezes uma tarefa bem complicada. "Muitas vezes, as crianças não falam porque receberam a ordem de não contar nada, mas se alguém lhes dá licença para o fazer, sentem-se aliviadas e falam."(3)

"É mais fáci, mesmo assim, falar com pessoas de fora do que com as de dentro porque isto são segredos familiares que os envolvidos não querem ver revelados", diz a pedopsiquiatra Ana Vasconcelos.(4) Segundo a psicóloga Francisca Rebocho, existe no interior do país "uma subcultura que aceita que os pais iniciem sexualmente as filhas."(4) Uma desculpa para um acto de barbaridade e de completo desrespeito pelas filhas das quais deviam ser responsáveis por amar e não "um direito do pai" que as trata como objecto sexual.


Bibliografia:

(1)-"Maus tratos verbais iguais a maus tratos físicos", Pais e Filhos, Agosto de 2006;
(2)-"Comportamento", Revista Domingo, 1 de Março de 2009;
(3)-"De olhos bem abertos", Superbebés, Dezembro de 2002;
(4)-SILVA, Marta Martins, "Infância enganada pelo pai", Revista Domingo, 20 de Setembro de 2009;

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